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Projeto Ariranhas: monitoramento, desafios climáticos e trabalho de campo

Publicado em Quinta, 11 de Dezembro de 2025, 12h33 | por Secretaria de Comunicação | Voltar à página anterior

Entre margens secas, rios que mudam de curso e um Pantanal em transformação, o monitoramento das ariranhas se tornou uma leitura do próprio bioma. Esta segunda reportagem da série, mostra como as expedições do Projeto Ariranhas, do IFFar – Campus Panambi, acompanha o cotidiano das famílias, suas tocas, áreas de marcação e como a crise climática está alterando a vida da espécie.

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Integrante da equipe do Projeto Ariranhas realiza monitoramento em área alagada do Pantanal/Foto: Divulgação

Monitoramento e o impacto da crise climática

Ao todo, hoje, o Projeto Ariranhas conta com 13 integrantes: oito voluntários, dois bolsistas, dois biólogos, sendo um deles Gabriel Brutti, egresso do IFFar – Campus Santa Rosa, e um veterinário. O trabalho do grupo abrange monitoramento ecológico, coleta de dados de longo prazo, análise genética, registro de comportamento e reprodução, instalação de armadilhas fotográficas, coleta de amostras biológicas e documentação de estruturas como tocas e áreas de marcação. Esse conjunto de informações permite reconstruir a história recente dos grupos observados, suas rotinas, deslocamentos e situações de risco.

O acompanhamento contínuo também viabilizou o levantamento de dados populacionais essenciais sobre a espécie. De acordo com a pesquisadora, o projeto mantém duas áreas de monitoramento de longo prazo no Pantanal: no Porto Jofre, no Pantanal Norte, onde cinco grupos foram monitorados em 2025; e no Rio Negro, no Pantanal Sul, com três grupos observados no mesmo período. Nos últimos seis anos, foram registrados 69 nascimentos, dos quais apenas 36 filhotes sobreviveram, um resultado que reflete diretamente os impactos do clima sobre os grupos familiares. Somados aos registros históricos, os pesquisadores já catalogaram mais de 400 ariranhas.

Esse tipo de monitoramento só é possível graças às expedições realizadas há anos durante o período seco. Nos meses de vazante, quando o rio revela suas margens e permite o acesso às tocas, pequenas embarcações deixam o acampamento ainda de madrugada, percorrendo quilômetros até encontrar sinais recentes da presença das ariranhas. Em alguns dias, o grupo é avistado rapidamente; em outros, a busca é guiada apenas pelo silêncio atento: a areia revirada, a marca da cauda no barranco, o cheiro característico deixado nas áreas de marcação. É a partir desses detalhes que se constrói o retrato mais preciso da espécie no Pantanal e no Cerrado.

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Pesquisadoras do Projeto Ariranhas registram dados de campo durante expedição no Pantanal/Foto: Divulgação

As mudanças do clima, no entanto, têm transformado profundamente a dinâmica dos grupos monitorados. As secas extremas reduziram a disponibilidade de alimento, comprometeram a reprodução e aumentaram a vulnerabilidade dos filhotes. Nesse contexto de estresse ambiental, outro fenômeno surgiu com força nunca vista antes: o aumento da predação (quando um ser vivo mata outro e alimenta-se dele) por onças-pintadas. Nos últimos dois anos, pelo menos nove ariranhas, entre elas oito filhotes e uma fêmea lactante, foram predadas em um intervalo relativamente curto, algo nunca documentado nessa escala para a espécie. O levantamento desses casos só foi possível graças ao monitoramento contínuo, que tem permitido identificar padrões antes invisíveis.

“Embora a onça-pintada seja um predador natural da ariranha, as taxas de predação registradas em 2024 e 2025 superam todos os registros anteriores. Acreditamos que esse aumento possa estar relacionado a um desequilíbrio na cadeia alimentar. No entanto, ainda precisamos de estudos mais detalhados para entender as causas desse aumento e orientar medidas que reduzam a mortalidade dos filhotes”, esclarece fundadora e coordenadora do projeto, a professora do IFFar – Campus Panambi e coordenadora de Pós-graduação da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação (PRPPGI), Caroline Leuchtenberger.

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Filhote de ariranha sendo predado por uma onça-pintada/Foto: Gabriel Arruda Santana

Além do Pantanal, a equipe também atua em algumas áreas da Amazônia – um bioma que apresenta desafios próprios. Caroline explica que cada região exige uma logística diferente. No Pantanal, a grande variabilidade dos rios influencia tudo: quando estão muito secos, dificulta a navegação; quando enchem demais, isolam estradas e impedem o deslocamento por terra. Já na Amazônia, as distâncias são maiores, a rede de rios é mais complexa e as ariranhas são mais ariscas, o que torna o acompanhamento mais demorado. Os conflitos com humanos também são mais frequentes, exigindo um cuidado maior para evitar riscos, inclusive para a equipe.

Ciência compartilhada: formação e vínculo comunitário

Além do acompanhamento em campo, o Projeto se dedica à formação de novos pesquisadores. Entre eles está o estudante de graduação do curso de Ciências Biológicas do Campus Panambi, João Guerreiro, que atua como bolsista.

Ele conta que tudo começou há cerca de um ano, durante uma viagem técnica organizada pelo IFFar para conhecer o Pantanal. “Eu vim conhecer o bioma pela primeira vez e, nessa atividade, encontrei a professora Carol. Ela comentou que estava buscando um bolsista. Me candidatei, fiz a entrevista e fui selecionado”, relembra.

Desde então, o dia a dia do estudante passou a incluir expedições de vários dias, longas navegações pelos rios e um aprendizado direto sobre a realidade da conservação. Entre as experiências que acumula no Projeto, uma das mais marcantes para ele foi a participação no Congresso Internacional de Lontras, ocorrido em fevereiro deste ano, no Peru. Lá, ele teve contato com pesquisadores que estudam todas as espécies de lontras do mundo e pôde observar de perto diferentes métodos de pesquisa e manejo. “Essa troca fez com que a gente aprimorasse nossas técnicas e aperfeiçoasse o trabalho aqui no Pantanal”, relata.

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João Guerreiro (primeiro à esquerda), ao lado de colegas de equipe durante instalação de placas com as diretrizes de turismo para a observação da espécie no Pantanal/Foto: Divulgação

João também realiza ações de educação ambiental e de divulgação científica, transformando dados de campo em materiais que ajudam escolas e comunidades a compreender a importância da espécie.

Caroline explica que o esforço de pesquisa é seguido por um conjunto amplo de atividades educativas. “Um dos pilares do Projeto é a divulgação científica. Para isso utilizamos estratégias diversas: produção de materiais, como guias de identificação usados no turismo, livros infantis e jogos didáticos, além de conteúdo para mídias sociais, reportagens e documentários”.

Os povoados locais, por sua vez, participam por meio de treinamento para condução de turismo, consultas, reuniões de planejamento e envolvimento nas atividades de monitoramento e educação. “O Projeto valoriza o conhecimento local no acompanhamento da espécie e, sempre que possível, inclui representantes comunitários nos processos de definição de ações e metas”, pontua a coordenadora.

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Piloteiro folheia Guia de Identificação de Ariranhas produzido pelo Projeto. Foto: Divulgação

O cotidiano de pesquisa revela a dimensão real dos desafios que cercam a conservação, seja na produção de conhecimento, na capacitação de novos profissionais ou na articulação com comunidades locais. A terceira e última reportagem desta série, revela como o Projeto Ariranhas se conecta a políticas públicas, iniciativas internacionais e discussões sobre os caminhos da conservação da ariranha nos próximos anos.

Para conhecer mais sobre o trabalho dos pesquisadores, descobrir curiosidades sobre as ariranhas, fazer uma doação ou até mesmo se candidatar para participar como voluntário e atuar de forma ativa pela conservação da espécie, acesse o site oficial do Projeto em: https://projetoariranhas.org/.

Saiba mais:

Projeto Ariranhas e a luta pela conservação da maior lontra do mundo
Projeto Ariranhas: a ariranha no cenário global, políticas públicas e futuro da conservação

Secom

Redação: Daniele Vieira - estagiária de Jornalismo
Revisão: Rômulo Tondo - Jornalista
Coordenador de conteúdo: Elisandro Coelho - Relações Públicas

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