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Projeto Ariranhas e a luta pela conservação da maior lontra do mundo

Publicado em Quinta, 11 de Dezembro de 2025, 11h21 | por Secretaria de Comunicação | Voltar à página anterior

Pouco conhecida pelos brasileiros, a ariranha está desaparecendo dos rios onde sempre viveu, acendendo um alerta sobre a saúde das águas do país. Nesse cenário, o Projeto Ariranhas, uma iniciativa conduzida pela docente Caroline Leuchtenberger do IFFar – Campus Panambi, lidera um dos monitoramentos mais consistentes da espécie e revela os impactos crescentes da degradação ambiental nos biomas nacionais. Esta é a primeira reportagem de uma série sobre esse trabalho.

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Ariranhas interagem à beira de um rio no Pantanal/Foto: Gabriel Brutti – Projeto Ariranhas

Antes de entender a dimensão do trabalho do Projeto Ariranhas, é preciso conhecer a espécie que ele busca proteger. 

A carismática ariranha

A ariranha, nome popular da Pteronura brasiliensis (Ptero: asa; nura: cauda), pertence à subfamília Lutrinae e é a maior das 13 espécies de lontras existentes no mundo. Nativa da América do Sul, foi descoberta pela primeira vez no Brasil e traz no nome científico uma homenagem ao país, que ainda abriga a maior parte de sua distribuição natural. Ela já ocorreu em muitos rios, inclusive no Rio Grande do Sul; hoje, no entanto, sobrevive apenas no Pantanal, na Amazônia e em algumas áreas do Cerrado, estando extinta na mata atlântica brasileira e em países vizinhos como Uruguai e Argentina.

Elas vivem em grupos familiares de dois a vinte indivíduos, formados por um casal reprodutor e animais mais jovens que auxiliam no cuidado dos filhotes. Alimenta-se principalmente de peixes, mas também pode consumir caranguejos, jacarés juvenis, cobras e outros vertebrados. Utiliza tocas (ou locas) escavadas nos barrancos para descansar, reproduzir e proteger os filhotes, e mantém latrinas coletivas para defecar e marcar território, criando verdadeiras “fronteiras químicas” ao longo das margens. Seus territórios podem ultrapassar dez quilômetros e se ampliar na estação chuvosa; encontros entre grupos rivais costumam ser barulhentos e agressivos, refletindo sua vida social complexa.

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Família de Ariranhas composta por uma mãe e três filhotes/Foto: Gabriel Brutti – Projeto Ariranhas

Até a década de 1970, a caça para comercialização de peles quase dizimou a espécie. Atualmente, suas maiores ameaças são a perda e degradação de habitat, a contaminação dos rios, o turismo desordenado, a construção de hidrelétricas e os conflitos com pescadores, que muitas vezes a vêem como competidora pelo pescado. Globalmente, a ariranha está classificada como “Em perigo” na Lista Vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN Red List).

Como predadora de topo, depende diretamente da disponibilidade de peixes e da integridade dos ambientes onde vive. É extremamente sensível à poluição e à degradação, funcionando como um termômetro da qualidade da água e da mata ciliar (vegetação das margens dos rios que protege contra a erosão, retém sedimentos, regula o fluxo da água e serve de abrigo para a fauna). Seu declínio pode indicar desequilíbrios que afetam as comunidades que também dependem desses recursos.

“A ariranha é uma sentinela das águas e um excelente indicador da qualidade ambiental. Ela é o que chamamos de ‘espécie-bandeira’: ao protegê-la, conservamos todo o ecossistema que ela representa”, explica a fundadora e coordenadora do Projeto, a professora do IFFar – Campus Panambi e coordenadora de Pós-graduação da Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Inovação (PRPPGI), Caroline Leuchtenberger.

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Ariranha se alimentando na área conhecida como Corixo Negro, no Parque Estadual do Encontro das Águas no Pantanal (MT)/ Foto: Gabriel Brutti – Projeto Ariranhas

Do vazio de dados à referência nacional

A história do Projeto Ariranhas começa há quase duas décadas atrás, a partir de uma inquietação da professora Caroline Leuchtenberger, surgida enquanto ela cursava o mestrado em Ecologia e Conservação na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).

A pesquisadora conta que, naquela época, começou a perceber uma contradição difícil de ignorar. Ela se perguntava: se as ariranhas são espécies-chave para a saúde dos rios, por que não existiam dados atualizados sobre sua situação no Pantanal, no Cerrado e na Amazônia?

O vazio de informações não era apenas lacuna acadêmica, representava risco concreto, pois qualquer mudança significativa nos ambientes aquáticos poderia se instalar silenciosamente, sem referência histórica, sem monitoramento, sem capacidade de resposta.

Naquele momento, a inquietação se transformou em pesquisa, que seguiu depois no doutorado em Ciências Biológicas (Ecologia) realizado no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). “Quanto mais eu estudava mais questionamentos surgiam. Eu percebia que as ameaças aumentavam, mas as ações planejadas raramente saíam do papel. Foi aí que decidi criar um programa de longo prazo, e então, em 2019, nasceu o Projeto”, lembra a professora.

Nesse processo, o IFFar tornou-se um “parceiro essencial". “O IFFar nos oferece aquilo que é mais valioso: gente. Docentes, técnicos, alunos de graduação e pós-graduação”, afirma a coordenadora.

No início, com poucos recursos, o Projeto era sustentado por deslocamentos curtos, parcerias pontuais e uma rede de estudantes que se reconhecia naquela missão. Ao longo do tempo, a iniciativa ganhou corpo, território e uma nova dimensão, maior do que Caroline poderia imaginar: a formação de uma grande comunidade científica, que consolidou o Projeto Ariranhas como o principal esforço de conservação da espécie no Brasil.

Além de comandar o Projeto Ariranhas, desde 2013, Caroline também atua na coordenação da espécie junto ao Grupo de Especialistas em Lontras da IUCN (OSG -IUCN), posição que fortalece o diálogo entre a pesquisa realizada no Brasil e as diretrizes internacionais de conservação.

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Caroline Leuchtenberger (segunda da esquerda para a direita, na fileira de baixo), ao lado de parte da equipe do Projeto Ariranhas/Foto: Divulgação

Ao longo de mais de uma década de trabalho, a equipe consolidou métodos, formou pesquisadores e acumulou dados que hoje ajudam a interpretar o que acontece quando o ritmo da vida selvagem esbarra nas mudanças aceleradas do clima. A próxima reportagem, traz a rotina de campo, o cotidiano das expedições, o comportamento das famílias de ariranhas e os sinais do ambiente que revelam como o bioma está mudando.

Para conhecer mais sobre o trabalho dos pesquisadores, descobrir curiosidades sobre as ariranhas, fazer uma doação ou até mesmo se candidatar para participar como voluntário e atuar de forma ativa pela conservação da espécie, acesse o site oficial do Projeto em: https://projetoariranhas.org/.

Saiba mais:

Projeto Ariranhas: monitoramento, desafios climáticos e trabalho de campo
Projeto Ariranhas: a ariranha no cenário global, políticas públicas e futuro da conservação

Secom

Redação: Daniele Vieira - estagiária de Jornalismo
Revisão: Rômulo Tondo - Jornalista
Coordenador de conteúdo: Elisandro Coelho - Relações Públicas

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